sábado, 5 de dezembro de 2009

Chegamos a Moçambique

A saída da Tanzânia foi breve, seguindo-se um curto circuito até ao rio, que deveríamos atravessar a pé e de barco. Negociados alguns meticais (moeda de Moçambique), lá arranjámos alguns "voluntários" para nos carregarem as malas. Pelo leito do rio caminhámos uns 10 minutos até que tivemos de entrar numa pequena embarcação que metia água por todos os lados.Asseguraram-nos que não ía ao fundo, nem virava. Duvidámos de ambas as garantias. Mas chegámos sãos à outra margem, onde novos moçambicanos e tanzanianos lutavam por nos dar boleia até Mocimboa da Praia, a perto de 150 km, novamente por caminhos de qualidade... enfim... Fizemos sete quilómetros na traseira de uma pick-up até ao posto fronteiriço. Na véspera, ainda na Tanzânia, garantiram-nos que na fronteira de Moçambique íamos ser tratados como príncipes, pois também falávamos português. Na prática, ficámos a saber que os tanzanianos não sabem o que dizem. Da pior forma. A ritmo tartaruga octogenária paralítica, o zeloso funcionário da emigração despachava os parcos "clientes" a uma velocidade alucinantemente... parada! Ainda por cima - oh que surpresa!! - os três portugueses, únicos turistas, ficaram para o fim. "De onde vêm? Não foram à embaixada tratar do visto"?, questionou.Morais, surpreso, disse que não e que era natural fazê-lo na fronteira."Aqui não estamos autorizados a dar vistos. Devem voltar a Dar es Salaam", retorquiu.JAMAIS, pensámos, em uníssono, quando debatemos o assunto entre os três.O funcionário da emigração lá foi ligar para o seu superior hierárquico. Saiu da cubata e afastou-se uns 30 metros para uma zona em que alegadamente tem rede. Este ali uma meia hora a olhar para o telemóvel. Sem lhe vislumbrarmos uma tentativa de chamada, regressou ao posto. "Somos jornalistas e estamos a fazer um amplo trabalho sobre esta parte de África e em Moçambique vamos falar com várias personalidades importantes, incluíndo o Ministro do Turismo.Se esses planos forem alterados, alguém terá de ser responsabilizado", dissemos-lhe, depois deste desautorizar os militares (sugeriram uma guia para tratarmos dos vistos em Pemba)."Eles não percebem nada disto. E o funcionário da emigração sou eu", marcou posição.Depois, quando viu que poderia ter problemas, mudou o ar superior para um mais dialogantee "disponível para ajudar". Algum tempo e paciência depois, lá tivemos autorização para prosseguir viagem até Mocimboa Praia, onde um pachorrento funcionário alfandegário apareceu para selar os passaportes (no caso do Batista, tudo foi feito sem a sua presença, pois este estava na pick-up a tratar que nenhuma mala evaporasse com o calor). Ainda na fronteira, e quando já tinhamos subido para a pic-up, um fulano não identificado (vestido à civil) chamou-nos para a caserna (mesma cubata, mas, mas divisão ao lado) onde observou demoradamente os passaportes. Com um ar sério e grave (cheirava-lhe a dinheiro), mas acabou por ganhar o mesmo que "a Maria no meio do milho". Antes, os militares também nos "convidaram" a entrar "para nos conhecermos melhor". Tanta simpatia acabou, porém, por resultar em nada de nada em termos de "subsídios".Como fomos os últimos a despachar-nos, adivinhem quem ficou com os piores lugares na ultra-apinhada pick-up? Sim, nós! Sentadinhos na parte de trás, entalados como podíamos e a vociferar contra cada um dos intermináveis saltos que a carrinha dava ao "voar" sobre terra firme (descobrimos ossinhos, doridos, que pensávamos não ter)..17 adultos e duas crianças. Finalmente, Mocimboa da Praia recebeu-nos com uma festa muçulmana, um restaurante com colunas nas alturas e a rua a virar automaticamente uma discoteca, onde os miúdos (duas centenas entre os 08 e os 12 anos) mostravam arte para brilhar em qualquer pista de dança do planeta.

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