terça-feira, 24 de novembro de 2009

a pureza desvirtuada...

Descíamos a cratera do Ngorongoro pelo lado exterior em direcção ao Serengeti, quando decidimos parar para visitar uma aldeia dos Maasai. Esta tribo está espalhada pelo Quénia e Tanzânia e dá fama a ambos os países, pela sua peculiaridade.

O natural ânimo deu lugar a alguma desconfiança quando percebemos que tínhamos de pagar. Não que ficássemos surpreendidos, mas sabemos que isso afecta o nosso imaginário.
Julius, o motorista que se julga guia, fez o preço em 7.5 euros por "cabeça", mas, a falar directamente com o filho do chefe da aldeia ficou tudo selado pelos cinco. Sem discussão.
As mulheres, enfeitadas, como que de árvores de Natal se tratassem (moda que ganha adeptas em Portugal), cantavam e dançavam, tal como os homens, mas estes com atitude mais viril e guerreria.

Entrados na aldeia, fortificada com ramos de árvores a toda a volta, logo fomos desafiados a saltar mais do que qualquer um dos Maasai.
- "Quem o conseguir fazer, escolhe as mulheres que quiser", desafiou Lukas.
Batista e Loureiro, sedentos de glória, logo trataram de afiambrar umas Maasai (Morais, mais comedido e já com uma "específica" debaixo de olho, registava tudo em imagem).

Lukas separou posteriormente o grupo, encontrando um anfitrião para cada um dos visitantes.
A explicação seria individual, no interior de uma casa Maasai. As múltiplas curiosidades sobre os Maasai não servirão para vos maçar (procurem no google), mas sempre ficam a saber que uma mulher vale umas boas 20 vacas. Se for séria, claro! Caso contrário, é troca directa: mulher por vaca.

As casas são muito rudicas e uns míseros 15 m2 podem albergar até umas oito pessoas. O tecto em bostinha seca: eficaz e já inodor. As Vacas são seguramente a base das suas vidas, pois além das trocas comerciais dão a carne, leite e... sangue, que são a base da sua alimentação.
Tudo isto, claro, a confiar no que nos contaram.

Nas "cubatas", cada um dos zelosos Maasai logo tratou de acabar com as explicações e passar à parte comercial.
Colares que noutros lados custam uns 20 ou 30 cêntimos, ali valiam uns 15 dólares (uns modestos10 euritos). Evidentemente, ninguém gastou um cêntimo lá.

A visita à escola da aldeia é para turista "ver". Inúmeras crianças semi-despidas sentadas ordeiramente com ar aborrecido. O quadro, preenchido a giz, tinha a primeira e óbvia lição, com os números até 10 em swahili e inglês, numa letra "desenhada" de fazer inveja ao melhor dos caligrafistas. Ninguém pediu para ouvir o brilhante inglês das crianças, seria embaraçoso desmontar a "farsa".

Surpreendente que nómadas dominem a lingua inglesa, mas a necessidade aguça o engenho e os euros/dólares são sempre bem vindos. "Para comprar água, roupas e comida para a aldeia", assegura Lukas.
"Também, mas não só", pensámos.

No fim, mesmo sem donativos para a escola (livros e material didactico que, obviamente, não usam), sobraram sorrisos e os desejos de um regresso próximo, com os sempre apetecíveis euros, dólares...

Sem dúvida, os turistas estão a adulterar o "modus vivendi" deste nobre povo,
que começa a perder a identidade a um ritmo avassalador (noutras paragens, sobram Maasai mais evoluídos: com as mesma roupa "nómada", mas já com evoluídos telemóveis, capazes de fazer inveja a este trio).

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